sábado, 18 de fevereiro de 2023

Rosinha Matuck

 Academia Virtual Mageense de Ciências, Letras e Artes- AVIMACLA

Patrono: Felipe Tiago Gomes
Presidente: Ivone Boechat
SOLENIDADE DE POSSE NA ACADEMIA VIRTUAL MAGEENSE DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES - AVIMACLA
Em conformidade com o seu Regulamento, a ACADEMIA concede o DIPLOMA de POSSE a Rosa Maria Matuck
Patronesse: Rizolêta Goulart da Silveira Matuck
Cadeira: 01
que neste momento se compromete a cumprir os seus deveres acadêmicos, tais como se esforçar pelo engrandecimento e a Expansão da Cultura Mageense, Cumprir e respeitar a Lei de Direitos Autorais, Zelar pelo bom nome da Academia.
Magé, 30 de outubro de 2020
Ivone Boechat
Presidente
POR QUE RIZOLÊTA GOULART DA SILVEIRA MATUCK É MINHA PATRONESSE
Rizolêta Goulart da Silveira Matuck
O ano era 1914, havia sido deflagrada “A Grande Guerra”, que mais tarde viria a ficar registrada historicamente como a “Primeira Guerra Mundial” e, apesar do Brasil ter declarado sua neutralidade, na pequena Magé, Estado do Rio de Janeiro, o assunto era tratado com angústia, pois trazia lembranças dos trágicos acontecimentos resultantes da “Revolta da Armada” e seus reflexos para a vida na cidade nos anos de 1893/1894.
De forma particular, a residência do jovem casal Manoel Francisco da Silveira - “Maneco Silveira” (22 anos) e Elvira Goulart da Silveira (19 anos) e de seu primogênito Wilson Goulart da Silveira (1 ano e 11 meses), foi tomado de preocupação. A leitura dos jornais era diária e toda informação recebida, angustiava a família que já carregava em si, história de sofrimento em função daqueles conflitos armados envolvendo de forma profunda a vida de Manoel. Neste cenário, às três horas da manhã do sábado, 17 de outubro, na localidade da Figueira, o lar desta pequena família, recebeu como bálsamo o nascimento da menina Rizolêta Goulart da Silveira (embora no decorrer da vida o seu nome em muitos lugares seja grafado como “Risolêta” com “s”, no seu registro de nascimento o mesmo consta com “z”).
O casal escolheu o nome da menina em homenagem a grande interprete brasileira “Risoletta”, que havia gravado seu primeiro trabalho em 1912, encantando aos jovens da época. Assim, a pequena Rizolêta Goulart da Silveira, foi embalada em sua primeira infância, pelas cançonetas de “Chiquinha Gonzaga” e outros autores, popularizadas na voz da grande cantora “Risoletta”.
Aos poucos a menininha repetia as letras de “A baiana dos pastéis”, “O Maxixe”, “A lavadeira”, “A abelha em flor”... Manoel Francisco, ao ver a facilidade da filha para decorar as letras das músicas que ouvia, começou a incentivar e trabalhar com a menina a composição de versos. Mesmo não sendo comum para época, Maneco alfabetizou em casa o filho Wilson aos seis anos de idade e, consequentemente a irmãzinha Rizolêta, que contava com seus quatro anos, acabou sendo alfabetizada ao mesmo tempo. Em função disso, muitas brincadeiras de infância foram trocadas pelas leituras.
A pequena Rizolêta era encantada pela embalagem de um produto de toucador de sua mãe Elvira - o pó de arroz ”Lola” - e vivia a brincar com ela, dessa forma acabou sendo carinhosamente chamada de “Lola” no seio familiar durante toda a sua vida.
Em 1918, Manoel Francisco, Elvira e os filhos passam a residir em São José do Rio Preto, quinto distrito de Petrópolis, para onde já havia se transferido o pai de Manoel - Joaquim Francisco da Silveira e o resto da família. Dois anos depois Manoel Francisco e Elvira resolvem voltar com os filhos para Magé, onde a família se fixou definitivamente.
Aos oito anos de idade, a menina Rizolêta conhecia e declamava a obra de grandes poetas em ocasiões especiais na igreja, em cerimônias cívicas, e etc. Aos quatorze já compunha e declamava as próprias poesias supervisionadas por seu pai, nesses eventos.
Durante muitos anos Rizolêta acompanhou o pai Manoel Francisco, a eventos públicos oficiais os mais diversos, pois ele exerceu em Magé as funções de negociante, professor do ensino público, delegado de polícia, oficial de justiça, entre outras. Nessas ocasiões, Rizolêta discursava e declamava suas poesias, tornando-se declamadora oficial em eventos cívicos da municipalidade.
Era fevereiro de 1931... Magé teve a honra de receber o primeiro ministro do Ministério do Trabalho, Industria e Comércio do Brasil (criado em 26 de novembro de 1930) - o Ilmo Sr. Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor. Nesta época, Magé exercia posição de destaque no cenário fabril fluminense. Rizolêta discursou em nome do operariado feminino mageense e ofereceu ao mesmo um ramalhete de flores.
No mesmo 1931, o Primeiro de Maio foi comemorado em Magé com grande pompa, tendo vasta programação, e novamente a participação de Rizolêta foi destaque na recepção aos representantes do Governo Provisório do Brasil, na praça fronteiriça a Estação Ferroviária. Contavam ali aproximadamente 300 pessoas. Rizolêta discursou enaltecendo as personalidades de Getulio Vargas, Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha e pedia um voto de confiança ao operariado nas ações do governo revolucionário.
Em 13 de junho de 1931, aos dezesseis anos, foi nomeada professora adjunta interina estadual para atuar no município de Magé.
Dando continuidade aos registros do ano de 1931, o dia 28 de junho, se tornou marcante para a jovem professora que com todo vigor de seus 16 anos, foi a figura feminina que representou a mulher mageense em evento de suma importância para municipalidade. Um acontecimento onde a elite jurídica, intelectual e política se reuniu e a mesma era composta exclusivamente de homens - As inaugurações da sala do Tribunal do Juri e da imagem de Cristo, além dos melhoramentos do edifício da Prefeitura Municipal de Magé.
Manoel e Elvira foram pais dos onze irmãos Goulart da Silveira - Wilson, Rizolêta, Dirceu, Milton, Odilla, Léa, Altair, Alair, Renato, Carlos e Carlúcio, nascidos entre 1912 e 1932, tendo o casal se preocupado com a formação humana e intelectual dos filhos. Manoel Francisco chegou a escrever uma espécie de “Manual Cultural” onde tratava de assuntos diversos de cultura em geral, para os filhos. Sendo Rizolêta a filha mulher mais velha, tinha uma forma muito maternal e carinhosa de tratar a todos os irmãos mais novos e do Wilson era companheira das conversas, leituras, poesias, gosto musical e debates políticos, de quem recebia incentivo, mesmo sendo mulher, de ter participação na vida pública. Embora o pai achasse que Rizolêta deveria ter essa participação, não concordava que se envolvesse em militância política como o irmão Wilson, pois esse trilhava os caminhos do avô paterno Joaquim Francisco da Silveira e do avô materno Damasceno da Silveira Goulart. Uma história de lutas e sacrifícios que a família não gostaria de reviver.
Mesmo assim, Rizolêta, se engajou com o irmão Wilson, em lutas sociais e dentre essas, podemos destacar a campanha pela construção de um hospital para Magé, sendo ambos integrantes do Grupo TALMA - um grupo que desenvolvia atividades culturais com o objetivo de angariar fundos para a construção do hospital. A luta coletiva foi frutífera e deu início a obra do atual Hospital Municipal de Magé (a princípio Hospital TALMA), cuja pedra fundamental foi lançada no dia seis de agosto de 1933.
Com sua poesia atravessou os limites do município mageense e teve suas obras publicadas em diversos jornais e revistas. Citando apenas alguns deles : Revista “Tico-Tico”, “Jornal das Moças”, jornal “O São Gonçalo”, revista “O Campo”.
Inaugurada a Escola Citrolândia - primeira Escola da Cruzada Nacional de Educação no Estado do Rio de Janeiro - em 19 de maio de 1934, tendo como primeira professora Rizolêta Goulart da Silveira que tomou posse do seu cargo proferindo entusiasmada alocução. Na ocasião o prefeito de Magé, o comandante Gilberto Huet Barcellar, era um entusiasta do projeto de erradicação do analfabetismo e dava o seu apoio incondicional a causa.
No mesmo 1934, em junho, o Comandante Barcellar inaugurou a Praça Visconde de Magé, no primeiro distrito desta cidade, e neste evento também teve oportunidade de falar ao público a jovem professora Rizolêta, arrancando aplausos da multidão.
Eram 3 de novembro de 1935 e durante a “Festa inaugural do cruzeiro luminoso da Colina Senhor do Bomfim”, na gestão do prefeito comandante Gilberto Barcellar e do pároco reverendo Julio Bilot, coube a Rizolêta fazer brilhante discurso enaltecendo a importância do acontecimento para a cidade.
Em 30 de julho de 1938, ocorre a nomeação de Rizolêta para Secretária de Gabinete da prefeitura Municipal de Magé, porém fica pouco tempo exercendo essa função, pois em 24 de outubro deste mesmo ano, é nomeada Inspetora de Ensino.
Houve um grande almoço comemorativo pela posse de Israel Jacob Averback como prefeito do Município de Magé, em 25 de dezembro de 1939, ocasião esta em que a Inspetora de Ensino Municipal pôde externar suas expectativas em prol da educação pública no novo governo em acalorado discurso. Em meio a tantos homens, mais uma vez brilhou a voz feminina da destemida e lutadora Rizolêta.
Através de publicações de suas poesias no semanário Revista das Moças, o poeta Jorge Matuck que era comerciante em Capivary e também tinha seus trabalhos publicados no periódico, se encantou pelos escritos da poetisa mageense. Assim, tomou a iniciativa de endereçar carta a mesma. Durante algum tempo trocaram correspondência voltada para a poesia e literatura, e acabaram se apaixonando. Jorge que já estava a procura de imóvel na cidade de Teresópolis para instalar uma loja de tecidos, muda de planos e se instala na cidade de Magé, propondo casamento a Rizolêta, no que é aceito.
Uma grande Festa da Árvore foi realizada à Praça Nilo Peçanha, em Magé no ano de 1941 sob a organização de Rizolêta, então Inspetora de Ensino Municipal. Toda a comunidade escolar foi envolvida. A cidade prestigiou o evento onde a Rizolêta palestrou brilhantemente sobre o tema “As duas primaveras”.
No sábado, 16 maio de 1942, o casal Jorge e Rizolêta se uniu em matrimônio. Rizolêta passou a partir daí, a assinar Rizolêta Goulart da Silveira Matuck. Este enlace deu origem a uma família composta por sete filhos: Rosa Maria, Maria Inez, Maria Esther, Antonio, Maria de Fátima, Jorge e Maria Martha. Todas as filhas “Maria”, como devoção a Nossa Senhora. Os meninos receberam um o nome do avô paterno e o outro o do pai.
Católica fervorosa e muito atuante na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, estava sempre presente às missas dominicais e demais ofícios religiosos. Sempre se colocou a disposição dos párocos para atender e ajudar naquilo que estava ao seu alcance. Durante muitos anos, dirigiu a “Obra do berço”, ajudando a muitas famílias carentes.
O Bicentenário da Matriz de Nossa Senhora da Piedade foi comemorado com pompa e alegria no mês de setembro de 1950, tendo Rizolêta participado entusiasticamente dos festejos. Como destaque, podemos citar sua atuação em sessão solene realizada no Salão Nobre da Prefeitura no dia 15, onde assim como o padre Luiz Brasil Cerqueira, pároco de Itaipava e a sra Edith Machado, foi oradora.
Impossível enumerar todas as participações públicas dessa mulher no cenário político/cultural mageense. O que não se pode deixar de observar é sua força, determinação e coragem de se fazer voz presente enquanto mulher nesses ambientes praticamente só franqueados aos homens. Foi uma pioneira na participação feminina no exercício da palavra dirigida a coletividade.
A 30 de janeiro de 1959, aposentou-se como funcionária pública municipal de Magé, após 28 anos de atividades relacionadas a Educação Pública (inicialmente estadual e em seguida, municipal).
Rizolêta foi autora de diversas letras de hinos escolares musicadas pelo maestro Pedro Kalil.
Carinhosamente dedicava poesias aos seus familiares e amigos em datas natalícias dos mesmos. Muitos tiveram este privilégio devido a amorosidade que a poetisa nutria pelas pessoas.
Rizolêta acreditava que educação tinha que ter como princípio o amor.
Durante muitos anos foi correspondente jornalística do Jornal “O São Gonçalo” para o qual enviava notícias sociais/culturais da cidade de Magé, além de publicar suas poesias.
Rizolêta estava as vésperas de completar os seus cinquenta e sete anos quando, a 12 de outubro de 1971, sofre o impacto da morte de Jorge Matuck, seu esposo por 29 anos, de quem exaltou as virtudes de homem, esposo e pai, segundo confidenciou em belíssima carta escrita ao irmão Renato Goulart da Silveira, declarando que só tinha a agradecer por tudo que recebeu deste seu companheiro de vida.
Após a viuvez, Rizolêta procurou forças para iniciar um nova caminhada e, sem o seu porto seguro Jorge, reencontrou-se com a música. Em meados da década de 70, comprou um piano e foi ser aluna da professora Rizê da Costa Moreira Silvério, dando vazão a musicalidade guardada dentro de si desde início da década de 30, quando começou a aprender violino, mas não pôde dar sequência aos estudos.
A vida de Rizolêta foi uma mistura de sonhos, lirismo, música, poesia, religiosidade... Dores, sofrimentos e também grandes alegrias... Muito realizou, muito deixou de realizar por falta de tempo de vida ou incompreensão de muitos... Inesquecível mulher que fez viagens profundas pela alma humana através de sua poesia. Um coração fraterno, amoroso e imensamente humano. Viúva, se despediu da vida aos 68 anos, deixando os sete filhos que eram o seus bens mais preciosos.
Em sua amada Magé, no dia 26 de outubro de mil novecentos e oitenta e dois, às 13 horas, a Patativa Mageense desprende-se de qualquer amarra, de qualquer gaiola e voa livre rumo ao céu. Finalmente seus voos e cantos são livres.
Rizolêta teve sua importância para a cidade e educação mageense reconhecida, recebendo em sua terra natal homenagens significativas - Cadeira na Academia Mageense de Letras, ocupada atualmente pela psicóloga e escritora Rita de Cassia da Silva Coelho; Patrona de Escola Pública Municipal no segundo distrito - Escola Municipal Profª Risoleta Goulart da Silveira Matuck; denominação de rua no primeiro distrito - Rua Poetisa Risoleta (antiga Rua da Liberdade), nas Flexeiras - Lei Municipal 863/988 de 25/11/1988.
Oficialmente - Rizolêta Goulart da Silveira Matuck. Para muitos - “Risoleta Matuck”. Para outros tantos -“A Patativa Mageense”!... Ah!... No meu caso - “Tia Lôla”, minha eternamente amada, saudosa e carinhosa tia de cabelos negros e crucifixo no peito!
Renata Moreira Goulart da Silveira
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