terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

José Rodrigues Borrajo

 Academia Virtual Mageense de Ciências, Letras e Artes - AVIMACLA

Presidente: Ivone Boechat
Patrono: Joaquim Francisco da Silveira
Acadêmica: Renata Moreira Goulart da Silveira
Cadeira: 02
EVENTO COMEMORATIVO
PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA AVIMACLA
09 de junho de 2021
PERSONALIDADE QUE ESCREVEU UMA BONITA PÁGINA NA HISTÓRIA DE MAGÉ
JOSÉ RODRIGUES BORRAJO
José Rodrigues Borrajo nasceu em 21 de abril de 1907, em Sainza, Raízes de Veiga, província de Orense, Espanha, filho dos espanhóis Fernando Rodrigues Peres e Purificacion Borrajo Rodrigues. Pertencente à família católica, sendo sua mãe sobrinha do Bispo de Canárias, foi batizado em 05 de agosto do referido ano na Paróquia de San Juan de Rairiz de Veiga.
Jose Borrajo chegou ao Brasil, pela primeira vez, aos cinco anos de idade, mas só se estabeleceu aqui, definitivamente, aos 10 anos, quando retornou acompanhado de seus pais e do único irmão caçula, Manolo.
José Borrajo passou sua infância e adolescência levando uma vida simples, mas tranqüila. Freqüentou o colégio Pedro II, sempre se destacando como bom aluno. Participou do Grupo de Escoteiros e como lazer, costumava passear de patins na Rua Voluntários da Pátria e proximidades.
Seu pai, Fernando Rodrigues, trabalhava na construção de túneis como o que liga Botafogo a Copacabana, Jardim de Alá, entre outras construções. Era mestre de obra e lidava com homens importantes da época, cujos nomes, hoje, adornam as ruas do Rio de Janeiro. Apesar de não ser engenheiro, ganhava um salário muito bom. Sua mãe Purificacion cuidava dos meninos e afazeres do lar.
Ao terminar o Curso Científico (atual Ensino Médio), Borrajo demonstrou interesse pela engenharia, mas seu sonho foi interrompido pelas intempéries da vida. Seu pai estava trabalhando e ocorreu uma explosão no túnel que o deixou totalmente cego e sem condições para trabalhar.
Dessa forma José se viu obrigado a abandonar seu sonho de lado e foi trabalhar no comércio para ajudar no sustento de casa. Os estudos ficariam para outra oportunidade. Enquanto o tempo passava, sua mãe inconformada com a situação do marido foi adoecendo, lentamente. Seu irmão Manolo foi acometido de tuberculose vindo a falecer muito jovem. A família Borrajo estava desmoronando junto com seus sonhos e, não demorou muito, para que sua mãe diagnosticada com câncer viesse a falecer.
Ao acompanhar de perto todo o sofrimento de seu pai, irmão e sua mãe, José tomou a decisão de cursar medicina. Seu lema seria salvar vidas.
Iniciou, então, o Curso de Medicina na Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Exerceu sua Residência Médica na Santa Casa de Misericórdia do Rio de janeiro, Enfermaria de Cirurgia. De 1933 a 1934 foi assistente cirurgião no Serviço Hospitalar do médico e professor Dr. Jayme Poggi, o que lhe rendeu, honrosas referências por sua competência brilhante.
Nesse período, já havia acertado toda a sua vida civil, tendo se naturalizado brasileiro.
Prestou serviço de atendimento aos estudantes do Seminário São José, gratuitamente, onde havia residido no período de Faculdade, tendo sempre recebido as melhores referências por parte do Monsenhor Virgilio Lapenda.
Em 09 de janeiro de 1940 casou-se com a Sra. Maria Paulina, curitibana, na Igreja de N.S. da Salette no Catumbi. Ele com 32 anos e ela com 25 anos.
Com a chegada do filho primogênito, José Fernando, em 21 de setembro de 1943, Borrajo procurava equilibrar sua vida profissional e familiar atendendo, diariamente, na Lapa e na Rua General Ozório.
A vida começava a ter um novo sentido apesar da luta para se fixar como médico em cidade grande.
Buscando se aprimorar e vencer os obstáculos que surgiam, em 17.01.46, viu seus esforços serem recompensados ao ser admitido pelo Chefe do Serviço de Biometria médica, no Departamento Nacional de Saúde, na função de médico, referência XV, da respectiva T.N.M.
Começava a ter êxito em sua profissão e nem imaginava a possibilidade de recomeçar em outra cidade. Ocorre que, um vizinho e grande amigo, o judeu Arthur Strauss recebeu um convite para trabalhar nas Fábricas Unidas de Tecidos, Rendas e Bordados, em Andorinhas, pertencente ao empresário alemão Herman Matheis. O destino estava selado e, em pouco tempo o empresário quis conhecer Dr. Borrajo e o convenceu a trabalhar no interior. A princípio, por dois anos, mas acabou ficando quarenta e três anos.
Dessa forma, em 01 de janeiro de 1947, o casal, acompanhado do pequeno José Fernando chega à pequena cidade de Andorinhas para uma nova jornada que exigiria muita renúncia, perseverança e amor.
Nada foi fácil, desde os parcos recursos para pequenas cirurgias, remédios, até o relacionamento com as pessoas locais e modo de viver. O primeiro parto realizado foi tão desesperador que, ao chegar em casa falou com a mulher que se preparasse, pois iriam voltar.
Entretanto, à medida que os dias passavam foi percebendo a necessidade que o povo tinha de atendimento médico e que ali era o seu lugar, o seu grande aprendizado como médico, homem, ser humano. Abraçou sua causa com muita garra, abdicação e perseverança.
A família por sua vez, procurava se adaptar as novas mudanças e ausências. Para o médico não havia Natal, datas festivas, nada. Se chamassem para atendimento ele largava tudo e ia. O único horário agendado para atender era o do consultório da Fábrica, manhã e tarde. Fora isso, atendimento sempre que necessário, inclusive, domingos, feriados e a qualquer hora, do dia e da noite.
O mais importante é que ele amava o que fazia, jamais reclamava ou demonstrava cansaço e dava sempre o melhor de sí. Era um médico do povo, viveu intensamente sua função com ética e profissionalismo.
Desafiava os limites, tendo inúmeras vezes atendido pacientes que moravam distantes, nos morros e sem acesso para carro. Ele simplesmente subia no lombo do cavalo e seguia, ficando muitas vezes, dias, aguardando o bebê nascer.
Segundo relatos, fez mais de 3.000 partos. Era comum vê-lo em quase todos os velórios. Onde houvesse necessidade de atendimento ou simples amparo moral, lá estava ele. Uma vez atendeu um operário da fábrica que estava com uma doença dermatológica e se tratava com um médico da Santa Casa no RJ. Começou a pesquisar e fez uma fórmula para o paciente. Com o passar do tempo o paciente ficou curado. Retornou a Santa Casa e os médicos de lá constataram a cura. O paciente, então contou tudo e uma equipe médica foi procurá-lo em Andorinhas. Nesse dia ele estava no RJ, por isso deixaram nome, endereço para que ele entrasse em contato, pois queriam divulgar a fórmula. Quando soube do ocorrido, deu uma risada e nunca os procurou.
Em outra ocasião, atendeu uma Sra. que dizia se encontrar grávida. Examinou, pediu alguns exames e disse taxativamente, não se tratar de gravidez. A mulher desapareceu, retornando meses depois, com a barriga bem acentuada , dizendo que iria ganhar o bebê em Niterói, provavelmente de cesariana. Ele então, perguntou local e data da cirurgia, dizendo que gostaria de assistir. No dia marcado compareceu ao hospital, identificou-se e foi assistir o parto. Quando o médico abriu a barriga não encontrou bebê algum, mas sim, uma protuberância denominada pelos médicos de “mola”.
Em 03.02.56, aos 53 anos de idade, foi agraciado com o nascimento de uma filha, Mônica Maria.
Em 08.05.59, foi admitido na carreira de médico, do quadro de servidores do serviço social da Indústria (SESI).
Médico do Instituto Nacional da Previdência Social tendo se aposentado em 23.03.77.
Em 1976 cursou Especialização em Medicina do Trabalho na Universidade Gama Filho com excelente aproveitamento.
Dr. José Borrajo trabalhou nas Fábricas Unidas até completar 83 anos de idade. Aposentou-se em julho de 1990 e faleceu em casa no dia 25 de agosto do mesmo ano, ou seja, com menos de trinta dias de sua aposentadoria. Faleceu em decorrência de infarto do miocárdio. Deixou esposa, dois filhos, dois netos, um bisneto, além de um legado memorável.
Morria o médico das famílias, o médico do povo de Andorinhas. Homem que fez da medicina sacerdócio e que jamais deixou de atender particular porque o paciente não podia pagar.
Acreditava que o maior legado a ser deixado para os filhos seria a educação, os estudos, pois estes não seriam perdidos com o tempo. Dessa forma, priorizou sempre os estudos dos seus dois filhos, dando-lhes as melhores oportunidades. Seu lema sempre foi seguir os caminhos da Justiça, Lealdade, Honestidade e da Ética.
POR SUA DEDICAÇÃO, PRONTIDÃO, SERIEDADE, PELA DEMONSTRAÇÃO DE AMOR AO PRÓXIMO, PELA VIDA INTEGRALMENTE CONSAGRADA AO EXERCÍCIO DA MEDICINA, DURANTE 40 ANOS EM SANTO ALEIXO, NO 2º DISTRITO DE MAGÉ, PELOS AMIGOS QUE SEMPRE O ADMIRARAM, JOSÉ RODRIGUES BORRAJO É UMA PERSONALIDADE QUE ESCREVEU UMA BONITA PÁGINA NA HISTÓRIA DE MAGÉ.
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