segunda-feira, 30 de maio de 2016





Monólogo da criança

Ivone Boechat

Sou criança! Cheguei, recentemente, de uma longa viagem, andei pelo caminho misterioso do pensamento dos meus pais e, durante a concepção, fiz um estágio muito feliz, ao lado do coração da minha mãe.
Estou aqui, um pouco assustada, porque os adultos conversam coisas estranhas que ainda não consegui entender. A vida é simples, bonita e colorida, por que complicam tanto? Sabe, imaginam que nós, crianças, somos incapazes, fracas e bobas.  Não é nada disto.
A gente apenas se esforça para crescer e ajudar a construir este mundo: soltar os passarinhos das gaiolas; fazer jardins para os beija-flores; salvar o azul cristalino dos rios; abrir as janelas das casas e soltar as pessoas... proteger os animais!
As pessoas crescem, ficam fortes, nos sufocam com as suas idéias, não nos deixam falar.
 Quero dizer que toda criança traz uma mensagem divina de paz.

Por favor, se você está triste, magoado, ou muito cansado, que culpa têm as crianças? Não deposite suas dores e lágrimas nesta plantinha que mal começa a brotar, ela se chama criança, para crescer e florescer feliz dê a ela fluídos magnéticos e milagrosos do Amor.


Publicado no livro Escola Comunitária, 1.ed. CNEC-Brasília  1993 DF

terça-feira, 24 de maio de 2016



Socorro, meus netos estudam numa escola moderna!

                                                                                 Ivone Boechat

Constantemente, incessantemente, ouvem-se agressões à Escola Pública tradicional como se ela fosse um aparelho com manual mofado para a fabricação de conservadores.  Sobrevivente feliz desse “tipo” de escola, sou testemunha ocular, porque estudei nela e quero relatar o que se passava ali.
O hino da Escola era lindo, foi composto por um pai de aluno. As datas cívicas não passavam em branco. A Escola virava uma festa!
Estudávamos, sim, numa cartilha de modelo único, considerada, hoje, como sucata antipedagógica, quadrada, boba, sem cores, barata, mesmo assim, nem todos tinham acesso a ela, houve casos em que o aluno conseguia uma toda despencada, mas a encapava e conseguia recuperá-la, porque aquela cartilha era preciosa para nós...A turma inteira aprendia a ler.
Na sala de aula, havia um “quadro-negro”, desbotado, dividido ao meio, porque eram duas turmas de séries diferentes na mesma sala. Nós aprendíamos a respeitar o espaço do outro! Ah! Não posso me esquecer... havia disciplina...Quase ninguém tinha transferidor e compasso, mas éramos capazes de reconhecer o compasso das músicas e sabíamos transferir carinho.  Havia aula de música, trabalhos manuais, e aprendíamos a fazer bainhas, a pregar botões e a costurar as roupas das bonecas. Aprendemos a gostar de artes! A ginástica era rítmica, ao som de música clássica! Aprendemos a gostar das artes! Discutíamos os autores.
O material escolar se resumia em dois ou três cadernos finos, lápis nem sempre coloridos. Poucos possuíam uma caneta a tinta...dava status...era o máximo! Na minha Escola havia um coral e cantávamos em latim, francês e inglês. Brincávamos no recreio com petecas, bolas, piões. O recreio era maior, brincávamos de roda. Fazíamos peças de teatro. Quem tinha um instrumento musical levava para se apresentar nas festas da Escola!
Boas maneiras, ética, elegância ao falar, treino ortográfico eram comuns. Nossa letra não era um garrancho, tínhamos caderno de caligrafia. O livro para estudo da língua portuguesa tinha uma antologia dos poetas brasileiros. Até hoje sei de cor Augusto dos Anjos (quase ninguém hoje sabe que ele existiu) Olavo Bilac, Machado de Assis, Casimiro de Abreu, Castro Alves e muitos outros.
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Como vai a Escola Pública moderna hoje ?

sábado, 7 de maio de 2016


Dia das mães

Ivone Boechat


Hoje,
Dia das Mães,
quando seu filho entrar
na sua casa,
dê graças a Deus
por esta linda história
que você escreveu;
enxugue a lágrima
que doeu
para ver com alegria
como o menino cresceu...
enfeita aquela antiga mesa
e comemore
a vitória:
você educou,
deu o exemplo,
orou
e sustentou
a brasa do amor acesa.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

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Que mulher é essa?

Ivone Boechat


Que mulher é essa
que não se cansa nunca,
que não reclama nada, 
que disfarça a dor?
Que mulher é essa
que contribui com tudo,
que distribui afeto, 
tira espinhos do amor!
Que mulher é essa
de palavras leves,
coração aberto, 
pronta a perdoar?
Que mulher é essa? 
que sai do palco,
ao terminar a peça,
sem chorar!
Essa mulher existe,
sua doçura resiste,
às dores da ingratidão.
Resiste à saudade imensa,
resiste ao trabalho forçado,
resiste aos caminhos do não!
Essa mulher é MÃE,
linda, como todas são.


Publicado no livro Amanhecer  3ª edição Reproarte RJ 2004